Quando acordou estava tudo igual ao dia anterior, estagnado e monocordico, mas ainda assim ela sentia-se diferente.
Em meses que não se sentia tão leve. Os problemas de ontem eram ainda os problemas de hoje e as suas soluções, ou ausência delas, mantinham-se igualmente pesarosas nos seus pensamentos mas finalmente tinha uma razão para voltar a acreditar e tudo ficava mais simples.
Podia tudo permanecer imutavel e no mesmo ponto de viragem e estagnação mas ao recordar aquele velho olhar cheio de promessas era impossível não sonhar. Desde que tudo começou a se despenhar, desde que aquela relação começou a desmoronar na distância dos afectos e da companhia que ela pensou que aquela pupila dilatada de expectativas tivesse desparecido, mas ontem, ela teve um vislumbre dela, por entre palavras e sorrisos daqueles que deixam rugas de expressão no canto dos olhos, ela viu o brilho no olho dele, aquele sentimento que ainda vive como brasa acesa na alma como rastilho no olhar de um sonhador. Ela reconheceu o cotomiço por detrás do homem durão que ele se havia tornado, não ele não estava diferente por dentro, era tudo uma questão de carapaças e auto-defesas, cada um tenta do seu próprio jeito se tornar imune à dor e aquele ar de frieza e indiferença foi o jeito dele.
Ao acordar ela sabia que naquele exacto momento ele estaria já numa viagem de regresso a tudo o que o afasta dela, mesmo assim era dificil não sentir a vontade de esperar que tudo isso ficasse para trás um dia, quando o odor que imanava ainda era o perfume dele embrenhado nos seus cabelos e na sua pele e de olhos fechados conseguia sentir o calor da sua voz então não sobravam alernativas senão acreditar, uma força revitalizante nascera dela, era a certeza que nada nesta vida poderia ser tão leviano e casual, quando olhou para ele depois de meses de incertezase e tortura psicoemocional, quando já duvidada dos seus proprios sentimentos e os racionalizava conseguiu fazer através do silêncio e dum simples contacto ocular o que não conseguiu durante todos esses meses, compreender porque o amava tanto, lembrou-se que era exactamente por ele ser quem é, tão adulto e tão criança, por conseguirem ser dois estranhos a discutir politica, dois amigos a desabafar coisas triviais da vida, ou quando eram mais que isso e se mostravam dois amantes brincalhões, risonhos, cheios duma cumplicidade inebriante, ela escolhia as palavras pensava o vocabulario, sempre assim fora, já ele pensava as emoções , escolhia os gestos, ela dava lhe o impulso enquanto ele lhe puxava o autocontrolo, era dificil explicar como eram leite com cafe, coisas tão opostas e que se complementam tão bem, separados perdem sabor, mas juntos superam-se. Ele representava para ela tudo o que ela idealizava, desde menina, ele tinha uma personalidade feitos de compostos antagonicos, mas que funcionava com acertividade, era ele quem fazia dela mais e melhor, por vezes podiam-se esquecer como funcionar juntos, podiam ser meio estranhos os encontros onde se obrigavam a conviver para alimentar aquilo que ainda vivia dentro deles, mas que proclamavam de amizade, mesmo assim a presença um do outro bastava para a encher de certezas a ela e de duvidas a ele, neste encontros ela racionalizava e ele emocionalizava. Fosse porque fosse algo os mantinha unidos por mais tempo que passasse, por mais pessoas que conhececem por mais distancia que se fizesse sentir, chegavam sempre a este ponto e a cada reencontro algo sempre renascia, mas desta vez ela sentia uma outra paz, uma alegria e uma calma diferentes, como se a tempestade estivesse a passar. Parece que não existe o depois dele? Será? ou será apenas ilusão?
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