tic tac, tic tac, tic tac
Os minutos passam num tic tac frenètico, um tic tac oco que só estas horas vazias me concedem ouvir, mas pior que isso me concedem sentir, o vácuo do tempo.
Mantenho o ritual de sempre, o ritual de permanecer com a televisão ligada mesmo quando não lhe presto a menor atenção, mesmo quando ela num passa dum constantate blá blá sem uma sequência lógica, até porque todo o som que ela emite neste momento vêm em versão inglesa. Apesar do programa até ser do meu agrado não consegue a maravilha de me despertar o interesse e o zapping é impensável, por motivos de paciência. Acabo por me concentrar simplesmente em duas únicas coisas, neste momento, ora afastar do monitor as borboletas e mosquitos entre outros seres voadores que não identifico, mas que sei que vêm do exterior deste compartimento refrescado pelas janelas abertas, numa noite abafada de verão, bichos e bicnhinhos que teimam em poisar na claridade do ecrã, ora a ver a minha gata com o cerebro hipoteticamente derretido pelo calor pois está num estado psicologico afectado é certo que num tem nenhuma vasta lista de actividades a cumprir durante o dia ou não se resumissem elas basicamente a comer e dormir, em suma com mais uma ou outra coisita, mas neste exacto momento está deitada no chão, onde se esperneia e se espalha fazendo uso das figuras mais ridículas, isto quando num lhe passa nenhum objecto voador identificado como, mosquito (por exemplo), pela frente do focinho e a deixa a correr dum lado pro outro neste compartimento, onde tece malabarismos e saltos fantásticos, uma autêntica acrobata, digo-te eu, o pior é mesmo quando num salto para os cortinados, solta as garras e deixa-se lá ficar pendurada, aí vejo me obrigada a intervir, naquela sua diversão cirsense. Enfim, horas mortas, horas em que apesar do calor me sinto envolvida por um frio gélido, o frio da ausência dura de quem se tornou em mim vital, não pelo que é, mas pelo que se transformou nos momentos felizes, que me deu a provar. E é para não pensar nesse frio, nessa ausência, que deixo os meus pensamentos divagarem e me deixo igualmente absorver por ninharias como as habilidades da minha gata, o que para mim na plateia até se torna cómico e sempre dá para distrair,e esquecer a falta que fazem pessoas especiais que estão tão perto mas tão distantes. Sabes... sinto me nostálgica ainda num outro dia por esta hora falavamos os dois e eu sentia me bem, (completa) e agora sinto-me tão vazia, como estas horas, por não te saber aqui, nem ali, por ter perdido o rumo que levaste. Sinto saudades de olhar os traços afáveis do teu rosto e de naufragar no teu olhar, faz tempo que não sinto o calor da tua voz e também isso me faz falta. Então dou por mim a perguntar pra onde terás ido. Para onde fugiste. Era tudo tão perfeito se cá estivesses agora, os momentos que tenho vivido, e as pessoas com quem tenho convivido seriam ainda mais marcantes (indomáveis) se estivesses por aqui com a tua mão na minha, a viver tudo isto comigo. Também te pareço bem mais distante, mas não estou, ando só ocupada, talvez inibriada com o encando de outras gentes, daquele outro pedaço de mim, que descubri naquele amigo, mas no lado esquerdo do peito continuas a ser tu que palpitas, como sempre e pra sempre. Dois anos já se passaram desde o primeiro olhar repentino que lançamos mutuamente, um olhar esfomeado de amor, um amor que veio e ficou. Que permanece, aqui, em nós, a crepitar cá dentro como chama viva, renascida a cada gesto.
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