Conta-me como foi que chegamos aqui a este silêncio mórbido, esta incongruencia de sentimentos e pensamentos.
Tu já não és tu, o teu olhar tão distante e o teu sorriso tão vago e ausente, chegaste mas é como senão tivesses trazido a tua alma contigo, sei que a trouxeste pois ainda vejo lapsos dela em breves instantes, quando me apertas mais forte, quando me prendes em ti e consegues reproduzir o teu velho sorriso.
Hoje fazer-te sorrir daquele jeito tornou-se numa vitória pessoal e trazer-te para o mundo real uma alegria inquantificavel
Mas apesar de cada mudança em ti, ainda te reconheço, quando consigo entrar no mel dos teus olhos eu te reencontro e me reencontro em ti
E é sem duvida esse reconhecimento que me faz querer lutar por ti mais do que por nós
Quero roubar-te dessa apatia, quero que voltes a confiar, a te entregar
Enquanto caminhamos os dois sozinhos pela madrugada as nossas presenças tornam-se contrangedoras, pois os nossos pensamentos falam mais alto que as palavras
Mas por aquelas ruas com o frio húmido da chuva no corpo fico feliz por te ter de novo ali, mesmo calado, mesmo tão ausente
Vejo nos gestos e sinto nas poucas palavras que proferes que também estás feliz por me ter ali de novo ao teu lado, mas com isso todo o teu mundo se baralha
Tiveste de reapreender a viver longe de tudo o que amavas e recriaste uma vida tão longe daqui, mas com a tua chegada ouvi todas as tuas construções se desmoronarem e o teu mundinho de cartão se inverter e ficar de pernas pró ar, percebo que te interrogues o que fazer, que rumo tomar
Se te conseguisse falar sobre o brilho artificial deste candeeiro que te ilumina o rosto nesta noite escura enquanto páras e me olhas em segredo, eu te diria para esquecer todas as falsificações e construções que aqui é e será sempre o teu lugar.
- olha-me fundo nos olhos..
-deixa-me agarrar-te para te prender em mim
-diz-me agora aonde pertences..
-confessa-me se mais alguma coisa faz sentido e se o tempo não parou neste momento
Tenho vontade de fazer amor contigo aqui mesmo, neste chão molhado, com as estrelas como tela de fundo, os sons que se confundem seriam abafados por orgasmos de certezas de que só juntos fazemos sentido
Sem mas nem porquês, sem pudores pois afinal o mundo para de girar quando estamos juntos
Dói tudo isto não passar de vontades e desejos arquivados
Dói ainda mais ver-te partir mesmo que seja apenas um misero par de kilómetros
Doentio pensar em respirar sem ti, então não me peças para o fazer para o resto da vida
Quando fores de novo para o outro lado do oceano, vai, vai mesmo
Mas quando voltares, volta inteiro, volta completo, volta tu próprio e volta de vez
Se me perguntares se accredito que somos fortes os suficiente e que vai ser diferente desta vez.
Direi que sim, e se me perguntares porquê, te direi que o faço por instinto e o farei quantas vezes forem necessárias, até vencermos, pois só depende de nós.
Mas se a vida for como esta estrada de paralelos em que agora caminhamos, não tenho duvidas que pertencemos um ao outro apenas nos desviamos no próximo cruzamento e seguimos sozinhos, mas em outro cruzamento da vida nos vamos reencontrar e caminhar juntos.
No fundo por mais que me queixe do silêncio sei que precisamos dele, mas deitado um ao lado do outro no calor dos corpos apenas a pensarmos, assim ficaria mais facil ter força e certezas.
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